Na oratória,
o movimento do pensamento é representado não apenas pela palavra, mas também
pelo gesto que sobre ele chama a atenção e acentua seus efeitos. Nisso, mais
que em qualquer outra matéria, uma justa medida se impõe porque tanto o excesso
como a ausência de mímica devem ser igualmente evitados com cuidado.
A maior
parte dos grandes oradores recebe a inspiração do invisível. Essa inspiração
chega até eles em ondas rápidas e faz surgir as expressões, as formas, as imagens
que provocam o entusiasmo das multidões. Em certos momentos, eles se sentem
como se fossem erguidos da Terra e levados por uma corrente irresistível. No
transcorrer da minha carreira de conferencista, experimentei muitas vezes a
sensação de uma poderosa ajuda oculta, e eu conhecia a sua causa. O Espírito
Jerônimo de Praga, meu protetor, meu guia, sempre me assistiu na minha tarefa
de propagandista. Às vezes, no momento de aparecer diante de um numeroso público,
com freqüência indiferente ou mesmo hostil, e de tomar a palavra, eu era vítima
de um mal físico, de uma violenta enxaqueca que paralisava meu pensamento e
minha ação. Mas então, respondendo ao meu ardente apelo, à minha prece, o
espírito do meu guia intervinha. Por uma enérgica magnetização, ele restabelecia
o equilíbrio orgânico e devolvia minha lucidez, meus meios de agir. Outras
vezes, após debates contraditórios que duravam várias horas, após lutas
oratórias com contraditores obstinados, materialistas ou religiosos, apesar do
meu esgotamento, eu ainda encontrava inflexões, entonações vibrantes que
pasmavam e abalavam o auditório.
Um dia, tive
a compreensão desse fenômeno ao vê-lo acontecer sob os meus olhos.
Encontrava-me em Aix-les-Bains, na igreja paroquial, no decorrer de uma
solenidade religiosa em homenagem a Joana d’Arc. Na presença do Cardeal
Dubillard e de uma multidão compacta, um jovem padre subiu ao púlpito para pronunciar
o panegírico da heroína. Minha médium, a senhora
Forget, que estava sentada ao meu lado, disse-me de repente: “Vejo o Espírito
Jerônimo, ele está de pé no púlpito, atrás do padre.” Fiquei atento ao que ia
se passar. O jovem padre começa com um tom calmo; suas frases harmoniosas se
desenrolavam com método, depois, pouco a pouco, o tom se eleva, a voz torna-se
vibrante e, por fim, inflexões poderosas, que eu reconhecia, fizeram ressoar as
abóbadas do edifício. Eu tinha um exemplo do que se produzira comigo em muitos
casos.
Essa
inspirada eloqüência eu a encontrei em certos médiuns, bastante raros na
verdade. Há os que incorporam, em uma mesma sessão, vários espíritos dos quais
as palavras revelam personalidades muito diferentes, de grande originalidade e
que é impossível serem confundidas entre elas ou com a do médium.
O médium
mais notável que encontrei, no decorrer de minhas viagens, foi a filha de um
professor do liceu de Marselha. Quando em estado de transe, ela servia de voz
não somente a oradores do espaço, mas também a outras entidades
extraordinárias, por exemplo a célebre Sra. Geoffrin, que por sua delicadeza de
espírito, sua amabilidade e o encanto penetrante de suas maneiras, por sua
linguagem um pouco antiquada, não deixava, temos que convir, margens para a
simulação.
É assim que
as influências do alto se fazem sentir de mil maneiras, e que mais e mais se confirma
a prova da sobrevivência da alma e da solidariedade que liga o mundo dos vivos
ao mundo dos mortos.
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