“O tema
final das nossas conversas torna-se mais e mais delicado e os elementos que
encontro no médium são de tal modo restritos que devo vos pedir que me
desculpem a pobreza das expressões empregadas. Iremos quase entrar e planar no
domínio divino.
Hoje, eu
queria poder entreabrir uma janela sobre esse azul celeste, que é o centro de
todas as radiações e resume, para vós, todas as virtudes, todas as potências
intelectuais e morais.
Comprovastes,
em vossas vidas humanas, que cada ser possui, em graus diversos, seja por
intuição, seja como resultado da sua vontade, qualidades que ele adquiriu na
Terra, em vidas anteriores ou por aspirações em direção às esferas fluídicas
divinas.
Atrevo-me a
vos dizer que o Ser divino é um centro radiante, composto de todas as coisas e
compondo cada coisa.
Vossas
imaginações terrestres não podem compreender isso. Aliás, não é necessário,
visto que, em vosso plano, não tendes a obrigação de vos colocardes mais alto
do que a evolução vos permite. Porém, do espaço, temos uma sensação mais forte
de que existe uma esfera, um campo de ação no qual as ondas fluídicas
impressionam e fazem vibrar, em nosso plano, os seres espirituais, em vosso
plano, os seres corporais, e que representa o poder, a beleza, a harmonia do
divino. Essa harmonia é a própria essência da arte; é ela que, empregada na
medida certa, faz vibrar os cérebros dos gênios e põe em ação as inteligências
em fase de evolução, por um trabalho e uma vontade firmes e racionais. Essas
esferas abrem a entrada do campo divino. Nós podemos representá-lo melhor que
vós, no entanto ainda não podemos nos fundir nele.
Eu queria
abrir inteiramente a janela para vos comunicar o pensamento divino, para vos
dizer de que forma e por qual irradiação fluídica integral a obra criadora
prossegue, porém, não está ao meu alcance abrir completamente a porta para esse
azul criador. Portanto, é apenas por uma pequena abertura que posso comunicar
aos vossos cérebros e aos vossos corações o que eu mesmo sei.
O foco
divino, então, está em ação constante e regular, criando o movimento universal.
É por meio dele que as criaturas nascem, vivem e se transformam, segundo a
pureza dos elementos físicos empregados. A irradiação divina se faz sentir mais
ou menos intensamente sobre as moléculas que aprisionam seu espírito.
O corpo
humano é mais ou é menos perfeito. Há uma questão de atavismo, uma questão de
atração espiritual nos meios mais puros ou menos puros que os ditos corpos
atravessam. As criações provindas do campo divino são de uma elevação
grandiosa. À medida que nos aproximamos dele, compreende-se melhor o
funcionamento desse grande organismo que é o Universo.
É um fato
indubitável que, quando o conjunto de rodas de uma máquina não se move
continuamente, elas chegam a se cobrir de uma ferrugem que impede seus eixos de
funcionarem regularmente. A ferrugem se traduz entre os seres organizados por
uma influência dos caprichos e das esquisitices inerentes aos meios inferiores
e, quando há excessos, pela influência das imperfeições e dos vícios.
É assim que
se degenera o bem, mas ele pode reviver ao contato das fontes puras, assim como
alguém que trabalhe em mecânica de precisão pode recolocar sobre seus eixos um
instrumento que não funcionava mais.
Por uma
vontade sempre firme, por um apelo direto, aspirai, portanto, as irradiações
vivificantes, assim podereis vos manter em relação com os feixes fluídicos que
emanam do campo divino e que vivificarão, por sua ação, as partes dos vossos
seres contaminadas pela ferrugem dos defeitos e dos vícios. É por essas relações,
quase constantes, com esses feixes fluídicos, que o ser, em um mundo ou no
espaço, conserva aptidões, meios de elevação, intuições que formam o sentido
genérico da palavra arte.
É por isso
que cada ser deve ter cuidado com o seu progresso e conservar em si mesmo esse
pólo atrativo que, se traduzindo virtualmente por capacidades correspondentes
aos seus desejos, será mais, ou menos, apaixonado pela arte. Esta palavra,
arte, quase mágica, significa: irradiação emanando de um campo supracósmico;
essa irradiação mantém em nosso mundo a luz, a grandeza, o poder, a beleza, a
bondade, que emanam do foco que forma o centro do campo fluídico divino.
Eu falei, em
uma conversa anterior, desse ponto mais sensível do organismo humano que se
chama coração. É do coração que parte a vibração que, espalhando-se em todo o
vosso ser, lhe fornece os meios de exteriorizar pensamentos nobres e elevados.
Porém, analisai bem essa vibração, refleti e compreendereis que quando um
sentimento generoso faz vibrar o vosso coração, é porque ele recebeu no mesmo
instante, por uma onda emanada do divino, o impulso de um nobre e generoso
sentimento.
É graças a
uma evolução racional em planos diferentes, em mundos diversos, que os seres se
depuram gradualmente. O que se faz em torno de vós far-se-á muito mais em torno
dos seres, dos mundos, das esferas.
Para
concluir nossas palavras, a arte é, para o ser humano, o chamado do campo
divino. Quanto mais um ser, por sua vontade e por seus atos, se aproxima de
Deus, mais ele está apto a sentir os eflúvios e as vibrações divinas. Segundo
sua evolução, essas vibrações se traduzirão por criações de virtudes, com a
palavra virtude sendo tomada em um sentido bastante geral. Em minha consciência
ela significa tudo o que é digno de ser amado. A arte, portanto, é um dos meios
de se sentir a grandeza de Deus. Devemos agradecer ao Criador por nos deixar
sempre em relação com ele, e temos que nos tornar cada vez mais dignos disso. É
preciso venerar e amar a arte, porquanto, através da imensidão do espaço, ela é
a mensageira da imortal irradiação e do movimento divino universal.
Guardemos no
mais profundo do nosso ser esse ponto sensível, que é para nós um dos pólos de
comunicação com o nosso Criador. Quer estejamos munidos de um corpo carnal ou
de um invólucro espiritual, a irradiação divina sempre chega até nós, quando
não deixamos na inação, por uma inércia repreensível, essa máquina que deve
servir de transmissão aos fluidos e às ondas divinas. O ser evoluído tem a
alegria de ajudar no aperfeiçoamento e na preservação de seres mais materiais.
A arte,
mensageira do divino, é a chama que jamais deve se apagar, ela deve nos fazer
compreender que a beleza e a glória de Deus são infinitas. Pode haver arte
mesmo nas mais pequenas ações se, adaptando-se ao meio onde age, a irradiação
divina que se exterioriza espalha ao seu redor uma chuva de ondas benéficas.
Como há
evolução nos seres, há evolução nas artes. Vós tendes os primitivos nas artes,
assim como nas ações e nas virtudes, porém, a centelha sempre brilha nas
condições em que ela pode se manifestar para confirmar a grandeza de Deus.”