O estudo do Espiritismo nas suas relações com a arte limita-se com os mais vastos problemas do pensamento e da vida. Ele nos mostra a ascensão do ser, na escala das existências e dos mundos, em direção a uma concepção sempre mais ampla e mais precisa das regras da harmonia e da beleza, segundo as quais todas as coisas são estabelecidas no Universo. Nessa ascensão magnífica, a inteligência cresce pouco a pouco; os germes do bem e do belo, nela depositados, se desenvolvem ao mesmo tempo em que a sua compreensão da lei de eterna beleza se amplia.

A alma chega a executar sua melodia pessoal, sobre as mil oitavas do imenso teclado do Universo; ela se penetra da harmonia sublime que sintetiza a ação de viver e a interpreta segundo seu próprio talento, desfruta cada vez mais as felicidades que a posse do belo e do verdadeiro proporciona, felicidades que, desde este mundo, os verdadeiros artistas podem entrever. Assim, o caminho da vida celeste está aberto a todos, e todos podem percorrê-lo, por seus esforços e seus méritos, e conseguir a posse desses bens imperecíveis que a bondade de Deus nos reserva.



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quinta-feira, março 29

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O Espiritismo na Arte


– As vibrações sonoras nos espaços etéreos

(Outubro de 1922)

“Vós sabeis como se formam as vibrações. O espírito, transportado na esfera vibratória, acha-se envolvido por uma rede de ondas sonoras cujos elementos são constituídos por seres superiores. O que sente ele? Sente uma impressão comparável àquela que sentis ao ouvir uma tônica[i] em música. Quanto mais as ondas do campo vibratório são desenvolvidas em velocidade e em comprimento, mais a impressão sentida pelo perispírito é viva, penetrante e comparável, em termos humanos, à impressão que nos proporcionam os sons agudos.

Temos, então, de um lado a tônica e de outro o som agudo. Se, no campo vibratório, as ondas variam em velocidade e intensidade, a amplitude do som variará e esse som parte de um ponto inicial, comparável à tônica. Esse ponto inicial compreende uma certa onda vibratória, e eu não posso mensurá-la. Eis uma comparação: vossos fonógrafos[ii] emitem sons onde, além da sonoridade produzida pelo instrumento, se aproximardes o ouvido do seu pavilhão, sentireis um calor mais ou menos intenso, segundo a elevação do tom. Pois bem, o ser desencarnado não sente calor, mas sensações mais ou menos deliciosas, de acordo com a maior ou menor velocidade e com a maior ou menor duração da onda.

As radiações que atingem o perispírito são coloridas de tons infinitamente variados. Cada cor tem uma propriedade particular, que dá uma sensação de bem-estar, de satisfação, que difere segundo a pureza, a homogeneidade de cada tom. É preciso, então, levar em conta, de um lado, a qualidade das ondas, isto é, da sua coloração; de outro lado, a sua velocidade, a sua duração, as diversas fases de seus meandros. Tudo isso provoca, no ser desencarnado, fenômenos incomparáveis e infinitamente variáveis, porque, quanto mais o espírito é evoluído, mais diversas são as ondas que ele percebe, assim como as cores, que exprimem os sentimentos. Tomemos como exemplo o azul, que representa os sentimentos mais elevados sob o ponto de vista afetivo; uma onda azul nos dará vibrações que serão, para o vosso ser, como um banho de amor. O vermelho, nas mesmas condições, representa a paixão. O amarelo será intermediário. O rosa, que é uma mistura de amarelo com vermelho, vos dará um amor menos intenso, porém mais constante. Assim, com essas cores fundamentais, podeis formar uma gama de tonalidades que dão, por correspondência, vibrações de todos os sentimentos humanos e sobre-humanos.

Se o ser desencarnado ainda é pouco evoluído, mas tem o desejo de se impregnar de belos sentimentos, seus guias o conduzirão para esferas animadas por seres angélicos. Quando o desencarnado é muito evoluído, ele colhe, nas mesmas esferas, satisfações em que o amor e a paixão virão impregnar seu ser, e é por isso que, de regresso à nossa Terra, os seres que amam a música lembram-se intuitivamente das estadas mais ou menos longas que fizeram no espaço, em um campo de ondas musicais.

A música celeste não é produzida por fricções de arco sobre cordas: tudo é fluídico, tudo é espiritual, tudo é inspirado pelo pensamento de Deus.”

– Comentários

Sobre a Terra, a gama de sons, tal como a concebemos, é apenas uma relação de sensibilidade que nada tem de absoluto. Compreende-se muito bem que existe uma relação entre as ondas sonoras e as ondas luminosas, mas esta relação escapa a muitos observadores e sensitivos, porque as percepções são muito diversas em seus graus de intensidade; sendo as vibrações luminosas incomparavelmente mais rápidas que as vibrações sonoras.

No entanto, para o espírito cujas percepções são muito mais possantes e mais extensas, a relação é mais estreita do que para nós, e a sensação se unifica; temos um exemplo disso na diferença que se estabelece entre as notas baixas, que correspondem às cores mais escuras, e os sons agudos, que correspondem às intensidades mais vivas.[iii]

A inteligência, que percebe e resume todos os efeitos e todas as formas da substância eterna, abrange todas as vibrações, e ela mesma vibra sem preocupações com distâncias e ritmos através do infinito.

Também é fácil para nós compreender como, na vida espiritual, os prazeres estéticos são correlativos ao grau de evolução dos seres. Todos nós temos, na Terra, o mesmo órgão auditivo, no entanto que diferença de sensações experimentadas pelos ouvintes de uma sinfonia, segundo seu grau de cultura ou sua elevação psíquica!

As formas e as imagens produzidas pelas vibrações sonoras nos espaços etéreos, das quais nos fala o Espírito Massenet, também nos parecem ser manifestações do pensamento ordenador que concebeu e dirige o Universo. A música celeste poderia representar a própria vibração da alma divina. Eis por que quanto mais o espírito evolui e se depura, mais se torna apto a compreender, a sentir a beleza e a harmonia eterna do mundo.


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[i]    Tônica: primeira nota da gama, de um dado tom; aquela que começa um trecho de música e lhe dá seu nome. Ex.: fá maior. (N.T., segundo o Dictionnaire Le Robert de la Langue Française.)

[ii]    Fonógrafo: antigo aparelho destinado a reproduzir sons gravados em cilindros ou discos metálicos; aparelho que reproduz os sons gravados em discos sob a forma de sulcos espiralados; gramofone. (N.T., segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.)

[iii]   A esse respeito, citarei as palavras pronunciadas pelo Sr. Deslandres, diretor do Observatório de Meudon, em seu discurso na sessão anual do Instituto, no dia 25 de outubro de 1921: “Atualmente, as vibrações e ondas do éter, bem reconhecidas e classificadas, formam cerca de 50 oitavas. O campo de estudo é muito mais extenso do que para os sons perceptíveis ao ouvido, que formam, no máximo, 10 oitavas, reduzidas a sete nos instrumentos de música. Essas 50 oitavas são repartidas em três grupos principais, que são: o grupo da radiotelegrafia, o grupo ligado à luz e o grupo dos raios X. Em geral, eles são classificados por ordem de freqüência, como em um grande piano. À esquerda, do lado das baixas freqüências e dos sons graves, estão as ondas da telegrafia sem fio, que asseguram as comunicações terrestres à grande distância. Ao centro, tem-se a oitava luminosa e as oitavas vizinhas que transportam calor e luz, que nos fazem conhecer o horizonte do local, o Sol e as estrelas, que impressionam as placas fotográficas e servem para depurar as águas. Enfim, à direita, do lado das altas freqüências e dos sons agudos, estão os raios X, que têm propriedades elétricas notáveis, que nos fazem descortinar as partes mais escondidas dos corpos vivos e a estrutura íntima dos átomos. Deve-se observar também que sobre essas 50 oitavas, só uma, colocada próxima ao meio, é percebida diretamente por um dos nossos sentidos: é a oitava que contém os raios luminosos do vermelho ao violeta.”
(N.A.)

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