O estudo do Espiritismo nas suas relações com a arte limita-se com os mais vastos problemas do pensamento e da vida. Ele nos mostra a ascensão do ser, na escala das existências e dos mundos, em direção a uma concepção sempre mais ampla e mais precisa das regras da harmonia e da beleza, segundo as quais todas as coisas são estabelecidas no Universo. Nessa ascensão magnífica, a inteligência cresce pouco a pouco; os germes do bem e do belo, nela depositados, se desenvolvem ao mesmo tempo em que a sua compreensão da lei de eterna beleza se amplia.

A alma chega a executar sua melodia pessoal, sobre as mil oitavas do imenso teclado do Universo; ela se penetra da harmonia sublime que sintetiza a ação de viver e a interpreta segundo seu próprio talento, desfruta cada vez mais as felicidades que a posse do belo e do verdadeiro proporciona, felicidades que, desde este mundo, os verdadeiros artistas podem entrever. Assim, o caminho da vida celeste está aberto a todos, e todos podem percorrê-lo, por seus esforços e seus méritos, e conseguir a posse desses bens imperecíveis que a bondade de Deus nos reserva.



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quarta-feira, março 29

a inspiração dos grandes oradores

Na oratória, o movimento do pensamento é representado não apenas pela palavra, mas também pelo gesto que sobre ele chama a atenção e acentua seus efeitos. Nisso, mais que em qualquer outra matéria, uma justa medida se impõe porque tanto o excesso como a ausência de mímica devem ser igualmente evitados com cuidado.
A maior parte dos grandes oradores recebe a inspiração do invisível. Essa inspiração chega até eles em ondas rápidas e faz surgir as expressões, as formas, as imagens que provocam o entusiasmo das multidões. Em certos momentos, eles se sentem como se fossem erguidos da Terra e levados por uma corrente irresistível. No transcorrer da minha carreira de conferencista, experimentei muitas vezes a sensação de uma poderosa ajuda oculta, e eu conhecia a sua causa. O Espírito Jerônimo de Praga, meu protetor, meu guia, sempre me assistiu na minha tarefa de propagandista. Às vezes, no momento de aparecer diante de um numeroso público, com freqüência indiferente ou mesmo hostil, e de tomar a palavra, eu era vítima de um mal físico, de uma violenta enxaqueca que paralisava meu pensamento e minha ação. Mas então, respondendo ao meu ardente apelo, à minha prece, o espírito do meu guia intervinha. Por uma enérgica magnetização, ele restabelecia o equilíbrio orgânico e devolvia minha lucidez, meus meios de agir. Outras vezes, após debates contraditórios que duravam várias horas, após lutas oratórias com contraditores obstinados, materialistas ou religiosos, apesar do meu esgotamento, eu ainda encontrava inflexões, entonações vibrantes que pasmavam e abalavam o auditório.
Um dia, tive a compreensão desse fenômeno ao vê-lo acontecer sob os meus olhos. Encontrava-me em Aix-les-Bains, na igreja paroquial, no decorrer de uma solenidade religiosa em homenagem a Joana d’Arc. Na presença do Cardeal Dubillard e de uma multidão compacta, um jovem padre subiu ao púlpito para pronunciar o panegírico da heroína. Minha médium, a senhora Forget, que estava sentada ao meu lado, disse-me de repente: “Vejo o Espírito Jerônimo, ele está de pé no púlpito, atrás do padre.” Fiquei atento ao que ia se passar. O jovem padre começa com um tom calmo; suas frases harmoniosas se desenrolavam com método, depois, pouco a pouco, o tom se eleva, a voz torna-se vibrante e, por fim, inflexões poderosas, que eu reconhecia, fizeram ressoar as abóbadas do edifício. Eu tinha um exemplo do que se produzira comigo em muitos casos.
Essa inspirada eloqüência eu a encontrei em certos médiuns, bastante raros na verdade. Há os que incorporam, em uma mesma sessão, vários espíritos dos quais as palavras revelam personalidades muito diferentes, de grande originalidade e que é impossível serem confundidas entre elas ou com a do médium.
O médium mais notável que encontrei, no decorrer de minhas viagens, foi a filha de um professor do liceu de Marselha. Quando em estado de transe, ela servia de voz não somente a oradores do espaço, mas também a outras entidades extraordinárias, por exemplo a célebre Sra. Geoffrin, que por sua delicadeza de espírito, sua amabilidade e o encanto penetrante de suas maneiras, por sua linguagem um pouco antiquada, não deixava, temos que convir, margens para a simulação.
É assim que as influências do alto se fazem sentir de mil maneiras, e que mais e mais se confirma a prova da sobrevivência da alma e da solidariedade que liga o mundo dos vivos ao mundo dos mortos.




sábado, março 4

materializações de espíritos

Em um grau mais elevado, por exemplo nas materializações de espíritos, a vontade destes cria formas, rostos, vestimentas, atributos semelhantes àqueles que eles possuíam na Terra e que permitem reconhecê-los, identificá-los. Nesse caso, o pensamento, ajudado pela lembrança, reconstitui os detalhes da existência que lhes eram próprios: vestuário, armas. A vontade lhes dá a consistência necessária para impressionar os sentidos dos observadores. Não é conveniente procurar em outro lugar a explicação desses fenômenos que são conhecidos de todos os espíritas experientes. Nossos guias nos asseguram que no espaço encontramos as arquiteturas mais estranhas, mais variadas, pois elas ultrapassam, em grandiosidade e em beleza, todas as criações dos nossos sonhos. Temos, sobre esse ponto, os testemunhos mais precisos: Raymond, o filho de Oliver Lodge, construiu uma pequena casa de campo de acordo com seus gostos terrestres. Os Espíritos Mozart, Victorien Sardoue outros construíram palácios ornados de plantas e de flores. Antigos arquitetos terrestres, dizem-nos, edificam santuários onde se celebram os ritos de tal ou tal culto. Os espíritos se comprazem em reconstituir meios semelhantes, porém superiores em beleza, àqueles que freqüentavam na Terra, e isso com muito mais facilidade, porquanto eles podem dispor de materiais bem mais flexíveis e mais maleáveis.
Fica-se admirado com esses relatos, essas descrições, e muitos comentários são trocados a esse respeito. No entanto, tudo o que se passa nas sessões de experimentação – os fenômenos de transporte, de levitação, a penetração da matéria pela matéria, a dissociação e a reconstituição de objetos através das paredes – mostra-nos o poder dos espíritos sobre os fluidos e facilita a nossa compreensão do assunto. Certos sábios psiquistas confessam que eles mesmos não compreendem nada a esse respeito, e por aí mostram a sua falta de prática em matéria de Espiritismo, enquanto que simples adeptos estão bem informados sobre esses fatos.




centelha de inteligência

Lembramos aqui que todo espírito emanado de Deus não possui somente uma centelha da inteligência divina; ele desfruta, ainda, de uma parcela do poder criador, poder que ele é chamado a manifestar mais e mais no decorrer da sua evolução, tanto nas encarnações planetárias quanto na vida do espaço.
Na Terra, sob o véu da carne, essa inteligência e esse poder são diminuídos; no entanto, não é maravilhoso constatar até que ponto o talento do homem tem conseguido subjugar as forças brutais da matéria, vencer sua resistência, sua hostilidade, submetê-las às suas fantasias? O homem forja o ferro, funde o bronze e o vidro, esculpe a pedra, ergue estátuas, constrói palácios e templos; o homem perfura montanhas e reúne os mares.

No espaço, porém, esse poder criador afirma-se tanto mais intensamente quanto mais sutil é a matéria fluídica e quanto mais o espírito tenha aprendido a combinar os elementos etéreos que são a própria substância do Universo. Lá, todas as dificuldades da obra terrestre desaparecem; basta uma ação mental firme para dar aos fluidos as formas que o espírito quer realizar e tornar duráveis.