O estudo do Espiritismo nas suas relações com a arte limita-se com os mais vastos problemas do pensamento e da vida. Ele nos mostra a ascensão do ser, na escala das existências e dos mundos, em direção a uma concepção sempre mais ampla e mais precisa das regras da harmonia e da beleza, segundo as quais todas as coisas são estabelecidas no Universo. Nessa ascensão magnífica, a inteligência cresce pouco a pouco; os germes do bem e do belo, nela depositados, se desenvolvem ao mesmo tempo em que a sua compreensão da lei de eterna beleza se amplia.

A alma chega a executar sua melodia pessoal, sobre as mil oitavas do imenso teclado do Universo; ela se penetra da harmonia sublime que sintetiza a ação de viver e a interpreta segundo seu próprio talento, desfruta cada vez mais as felicidades que a posse do belo e do verdadeiro proporciona, felicidades que, desde este mundo, os verdadeiros artistas podem entrever. Assim, o caminho da vida celeste está aberto a todos, e todos podem percorrê-lo, por seus esforços e seus méritos, e conseguir a posse desses bens imperecíveis que a bondade de Deus nos reserva.



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sexta-feira, novembro 20

a solidariedade dos sons e das cores

A solidariedade dos sons e das cores, da qual nos fala o Espírito Massenet, foi entrevista por todos os grandes músicos. 
Um deles disse: “A melodia é para a luz o que a harmonia é para as cores do prisma, isto é, uma mesma coisa sob dois aspectos diferentes: melódico e harmônico.”

Platão diz ainda: “A música é uma lei moral. Ela dá uma alma ao Universo, asas ao pensamento, um impulso à imaginação, um encanto à tristeza, a alegria e a vida a todas as coisas. Ela é a essência da ordem e eleva em direção a tudo o que é bom, justo e belo, de que ela é a forma invisível, porém surpreendente, apaixonada, eterna.”

De passagem, observemos que Massenet é mais melodista que sinfonista.

Para formar a luz branca, é necessário o acorde das cores complementares e esta luz torna-se mais viva e radiosa na mesma proporção em que a melodia resuma e sintetize melhor o acorde das harmonias complementares.

Parece, então, que há uma concordância perfeita entre as concepções dos gênios terrestres e o ensino das entidades do Além, reconhecendo-se que estas nos fornecem detalhes, estimativas ignoradas pelos especialistas do nosso mundo.

As relações que a melodia e a harmonia têm entre si são como as que existem entre o pensamento e o gesto. Também se poderia dizer que, em música, a melodia representa a síntese, e a harmonia, a análise. Portanto, elas penetram uma na outra e não valem senão quanto mais completamente se combinem e se liguem.

 Na Terra, a beleza de uma obra musical resulta ao mesmo tempo da concepção e da execução, mas na vida do Além, o pensamento iniciador e a execução se confundem porque o pensamento comunica às vibrações fluídicas as qualidades que lhe são próprias. A obra é tão mais bela e a impressão que ela produz é tão mais viva quanto mais elevada for a intenção. É isso que dá à prece ardente, ao grito da alma em direção ao seu Criador, propriedades harmônicas.
Quanto mais nos elevamos na escala das relações, mais a unidade aparece em sua sublime grandeza.
A lei das notações musicais rege todas as coisas e seu ritmo embala a vida universal. É uma espécie de geometria radiante e divina. O alfabeto humano, como uma gaguez, é uma de suas formas mais rudimentares. Suas manifestações, porém, tornam-se cada vez mais amplas e importantes em todos os graus da escala harmônica.

O espírito humano não pode se elevar até às supremas alturas da arte cuja fonte está em Deus, mas ele pode, pelo menos, elevar suas aspirações em direção a elas. As concordâncias estéticas se dispõem, em graus, ao infinito; mas acontece apenas se, nas horas de êxtase e de enlevo, o pensamento humano entrevê alguns aspectos da lei universal da harmonia. A regra musical se produz, no espaço, em traços de luz; o pensamento, a expressão do talento divino e os astros em seu curso, ali conformam suas vibrações.

Se o espírito humano, em seus arrebatamentos, se eleva um instante sobre essas alturas, ele recai impotente para descrever suas belezas; as impressões que ele sente só podem ser traduzidas por uma muda adoração. O próprio Espírito Massenet se declara insuficientemente evoluído para se manter nessas esferas superiores.
Uma vez mais, aqui nos encontramos parados pela impossibilidade de exprimir, em uma linguagem humana, idéias sobre-humanas. Ainda que se possa falar, fica-se sempre abaixo da verdade. O infinito das idéias, dos quadros, das imagens são como um desafio dirigido aos recursos limitados do vocabulário terrestre. Efetivamente, como encerrar em palavras, como resumir em palavras todo o esplendor das obras que se desenvolvem nas profundezas dos céus estrelados?




gama de sons

Sobre a Terra, a gama de sons, tal como a concebemos, é apenas uma relação de sensibilidade que nada tem de absoluto. Compreende-se muito bem que existe uma relação entre as ondas sonoras e as ondas luminosas, mas esta relação escapa a muitos observadores e sensitivos, porque as percepções são muito diversas em seus graus de intensidade; sendo as vibrações luminosas incomparavelmente mais rápidas que as vibrações sonoras.
No entanto, para o espírito cujas percepções são muito mais possantes e mais extensas, a relação é mais estreita do que para nós, e a sensação se unifica; temos um exemplo disso na diferença que se estabelece entre as notas baixas, que correspondem às cores mais escuras, e os sons agudos, que correspondem às intensidades mais vivas.
A inteligência, que percebe e resume todos os efeitos e todas as formas da substância eterna, abrange todas as vibrações, e ela mesma vibra sem preocupações com distâncias e ritmos através do infinito.
Também é fácil para nós compreender como, na vida espiritual, os prazeres estéticos são correlativos ao grau de evolução dos seres. Todos nós temos, na Terra, o mesmo órgão auditivo, no entanto que diferença de sensações experimentadas pelos ouvintes de uma sinfonia, segundo seu grau de cultura ou sua elevação psíquica!
As formas e as imagens produzidas pelas vibrações sonoras nos espaços etéreos, das quais nos fala o Espírito Massenet, também nos parecem ser manifestações do pensamento ordenador que concebeu e dirige o Universo. A música celeste poderia representar a própria vibração da alma divina. Eis por que quanto mais o espírito evolui e se depura, mais se torna apto a compreender, a sentir a beleza e a harmonia eterna do mundo.