O estudo do Espiritismo nas suas relações com a arte limita-se com os mais vastos problemas do pensamento e da vida. Ele nos mostra a ascensão do ser, na escala das existências e dos mundos, em direção a uma concepção sempre mais ampla e mais precisa das regras da harmonia e da beleza, segundo as quais todas as coisas são estabelecidas no Universo. Nessa ascensão magnífica, a inteligência cresce pouco a pouco; os germes do bem e do belo, nela depositados, se desenvolvem ao mesmo tempo em que a sua compreensão da lei de eterna beleza se amplia.

A alma chega a executar sua melodia pessoal, sobre as mil oitavas do imenso teclado do Universo; ela se penetra da harmonia sublime que sintetiza a ação de viver e a interpreta segundo seu próprio talento, desfruta cada vez mais as felicidades que a posse do belo e do verdadeiro proporciona, felicidades que, desde este mundo, os verdadeiros artistas podem entrever. Assim, o caminho da vida celeste está aberto a todos, e todos podem percorrê-lo, por seus esforços e seus méritos, e conseguir a posse desses bens imperecíveis que a bondade de Deus nos reserva.



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quarta-feira, fevereiro 2

quem se ama

o caso especial de Miguel Ângelo


Romain Rolland descreve, nestes termos, o caso especial de Miguel Ângelo (Revue de Paris, 1906, e Cahiers de la Quinzaine):
A força do talento que provém do Deus oculto não se manifesta mais claramente senão em um homem sem vontade, como Miguel Ângelo. Jamais um homem foi sua presa dessa forma. Esse talento não parecia da mesma natureza que ele; era um conquistador, que havia se lançado sobre ele e o mantinha escravizado. Sua vontade não tinha nenhum poder e quase se poderia dizer, nenhum poder tinham seu espírito e seu coração. Era uma exaltação frenética, uma vida formidável em um corpo e uma alma muito fracos para contê-las.
Encontra-se em Goethe (Cartas a uma Criança), os seguintes detalhes sobre Beethoven:
Beethoven, falando da fonte de onde lhe vinha a concepção de suas obras-primas, dizia a Bettina: “Eu me sinto forçado a deixar transbordarem, de todos os lados, as ondas de harmonia que provêm do foco da inspiração. Tento segui-las, e as agarro apaixonadamente; de novo elas me escapam e desaparecem entre a multidão das distrações que me cercam. Logo eu volto a agarrar a inspiração com ardor, arrebatado, multiplico todas as suas modulações e, no último momento, triunfo com o primeiro pensamento musical.
Devo viver sozinho comigo mesmo. Sei bem que Deus e os anjos estão mais perto de mim, em minha arte, que os outros. Comunico-me com eles e sem temor. A música é uma das entradas espirituais nas esferas superiores da inteligência.”

olhos de inverno